segunda-feira, 26 de julho de 2010

Capíulo V- Mais um capitulo da minha odisseia

Agora já nos encontrávamos mais perto do final desta etapa e os turras ainda não se tinham metido connosco, não estava a correr mal esta viagem pelo sertão Angolano.

A coluna continuava a rodar normalmente na picada muito esburacada e, devido aos constantes saltos da viatura nós saltávamos juntamente com ela, mas sempre com a arma bem segura nas mãos e as cartucheiras na cinta, não podíamos descurar a segurança.
Repentinamente rebenta estrondoso e diabólico tiroteio de armas automáticas e metralhadoras pesadas, toda a coluna se imobiliza e nós saltamos rapidamente para debaixo da viatura protegendo-nos debaixo das suas rodas.
Sob este tiroteio terrível e infernal o Farsola grita-me.
- Os cabrões estão a atacar a cauda da coluna! Estão a dar porrada nos nossos amigos do Meposo.
E eu confirmo angustiado.
- Pois, é. Entre eles estão o transmissões Valinhas e o enfermeiro Marialva.
O Batalhão de Caçadores 4912 com sede em Noqui, tinha a 3º companhia destacada em Mepala e a 2º em Meposo- que estava agora a ser fortemente atacada e na qual estavam integrados o Valinhas e o Marialva- Esta companhia do Meposo, assim como o restante Batalhão 4912 eram constituidos por soldados atiradores Açoreanos. Apenas os graduados e os especialistas eram provenientes da Metrópole.
Efectivamente o inimigo tinha uma tremenda e bem montada emboscada á nossa espera. Deixara passar a quase totalidade das viaturas e atacava forte e feio as duas últimas, dois veículos hunimogues com seis soldados cada, que como já referi faziam parte da escolta protegendo-nos a retaguarda.
O inimigo tinha criteriosamente escolhido o local da emboscada, a picada muito estreita e sinuosa, o terreno bastante ravinado e a contornar um alto morro, não permitia que as viaturas da frente invertessem a marcha para virem em socorro dos que estavam a ser massacrados.
Parecia que os nossos estavam a reagir, mas muito timidamente, pois distinguiam-se alguns tiros de G3, mas muito poucos.
Entretanto passados minutos do começo deste inferno, passam por nós a correr alguns soldados das viaturas da frente, vinham curvados com as armas em riste, a gritarem, injuriando e chamando nomes e impropérios aos turras, ao mesmo tempo que se tentavam incentivar e encorajar mutuamente.
Algumas balas perdidas e estilhaços passam alto sobre nós e algumas assobiam batendo nos taipais metálicos das viaturas. Que será feito do nosso ancião que ficara sozinho em cima da camioneta?
Junto a nós a menina chorava desconsolada agarrada ao pescoço da mãe, enquanto o rapaz gritando descontroladamente se aninhara junto do Farsola.
Mais soldados correm e praguejam, subindo o morro tentando o envolvimento, o tiroteio de G3 e bazucas torna-se mais intenso, mas passado pouco tempo quase se faz silencio, apenas alguns rebentamentos de morteiros se fazem ouvir cada vês a rebentarem mais distante, sinal de que os turras retiram e os nossos os perseguem á morteirada.
Todo este inferno demoníaco se desenrola muito perto de nós, as viaturas emboscadas devem estar a uns 100 metros ou menos, mas nada conseguimos vislumbrar devido á curva que contorna o morro e á mata cerrada.
A coluna fica imobilizada durante longas horas e assistimos á chegada de um héli – canhão que nos sobrevoa fazendo um ruído ensurdecedor, de seguida aparecem dois helicópteros mais pequenos equipados com duas macas cada. Receamos que o pior possa ter acontecido aos nossos amigos e camaradas.
Entretanto ordenam-nos que subamos para os nossos postos em cima da camioneta,
o Farsola fica deitado com a arma apontada á mata cerrada, enquanto eu fico no lado oposto a controlar o alto capim que me bate na cara. O velhote que entretanto eu ajudara a descer, aninhara-se junto da mulher e das crianças debaixo da viatura e todos entoavam um enorme pranto.
MANUEL ALDEIAS

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Capítulo IV-Continua a minha viajem pelo setão Angolano

Partimos de Ambrizete com era hábito nestas deslocações ainda de madrugada, antes do sol nascer, para a última etapa com destino a São Salvador do Congo.
Esta seria a etapa mais difícil desta longa viagem, porque eram dezenas e dezenas de km por picadas de terra batida em péssimo estado, com muitos buracos ainda mais agravados por estarmos em plena época das chuvas. E viajarmos na caixa de carga da camioneta também não era nada agradável.
A composição da coluna sofrera alterações, a segurança fora reforçada, e nós também tomamos algumas medidas, limpamos  muito bem com um pano as nossas meninas, tendo especial atenção á zona da culatra, puxei várias vezes o manipulo, injectando e expelindo algumas balas, confirmando que tudo estava em condições e pronto para qualquer eventualidade Agora já não viajávamos só nós os dois, em Ambrizete entraram novos passageiros que nos faziam companhia.Sentado no chão e tal como nós aos trambolhões provocados pelos imensos buracos, seguia um ancião vestido andrajosamente, muito magro, seco, com uma pequena barbicha e um braço ao peito. Aparentava talvez cinquenta anos, não sei bem precisar, porque estas pessoas ostentavam uma idade superior aquela que tinham na realidade e a sua esperança de vida era muito baixa, penso que na época  não ultrapassaria os quarenta anos.
Também tínhamos por companhia uma jovem mãe, vestida ao modo tradicional das mulheres da tribo kicongo, com um pano garrido repleto de ramagens muito coloridas atado abaixo do peito, vinha acompanhada de dois filhos, uma menina de cinco ou seis anos com um pano atado á cinta e um rapaz um pouco mais velho, vestido simplesmente com uns calções bastante coçados e também descalço como todos os outros nossos companheiros de viajem. Segundo me disseram, todos eles regressavam a casa depois de uma ida ao Hospital.
Na nossa frente seguia uma camioneta civil com uma enorme carga de grades de cerveja, á qual o Farsola lançava um olhar de felino, farejando a oportunidade de deitar a mão a algumas garrafas.
Na nossa retaguarda vinha uma viatura militar com uma carga totalmente coberta por um oleado verde, o que não era comum, por aqui todas as cargas normalmente vinham descobertas, travadas no cimo com algumas tábuas atravessadas e amarradas com grossas cordas. O Farsola não resistiu á sua curiosidade de antigo larápio, na primeira paragem dirigiu-se á camioneta, levantou o oleado, mirou e correu para mim gritando esbaforido.
- Mike! Vamos bem acompanhados. Porra! É um carregamento de sobretudos de madeira.
Respondi-lhe, incomodado com a descoberta.
- Eh. Pá! Como a puta da guerra no norte está a aquecer, estão-se a precaver com caixões, Mau augúrio.
Viajávamos na cauda da coluna, atrás de nós só a camioneta dos caixões, e em último lugar para fechar este carrossel dois hunimogues com os soldados encarregados da protecção á retaguarda.
Com o escaldante sol Africano a pique e a água do cantil quase a ferver chegamos a Tamboco, uma grande Sanzala que se estendia de um e outro lado da poeirenta picada, os garotos aos bandos corriam ao lado dos hunimogues da tropa e os soldados atiravam-lhes algumas latas de conserva que rolavam pelo chão e provocavam uma renhida luta pela sua posse.
O Farsola aproveitou a pequena paragem e foi em corrida ao quartel encher os cantis de água, enquanto eu ficava de guarda aos nossos pertences.
Entretanto a coluna pôs-se em movimento e o meu camarada sem aparecer. Começava a ficar preocupado com a situação, apesar de saber que o Farsola era bastante desenrascado e portanto haveria de arranjar maneira de se desembaraçar da situação. Quando eu já desesperava de todo, á saída da povoação lá estava ele com os braços no ar a fazer sinal ao nosso motorista para parar.
Subiu para a camioneta cansado, e com voz ofegante disse.
- ÉH! Pá! No bar do Zé soldado, só já havia cerveja quente, de modo que tive de dar uma corrida até á cantina do civil que fica ao fundo da sanzala – e ao mesmo tempo que sacava duas cervejas dos grandes bolsos do camuflado, exclamava satisfeito.
- Toma lá! Ainda consegui estas duas bujecas fresquinhas.
Era um grande e prestimoso camarada este Farsola, e no relacionamento com os nossos amigos passageiros mostrava o seu lado mais humano, durante a viajem brincava muito com as crianças e oferecia-lhes atum com bolachas de água e sal, que era o nosso substituto do pão para acompanhar-mos as rações de combate. Muita fome e privações passávamos nós desditosos e ignorados soldados, calcorreando as selvas cerradas e hostis da imensa Angola, combatendo e sofrendo nesta terrivel e impiedosa guerra.

domingo, 18 de julho de 2010

Capítulo III-E a saga continua ( Hoje chegamos a Ambrizete)

O MVL partiu de madrugada, ainda de noite. Esta imensa coluna formada por dezenas e dezenas de viaturas, umas militares outras civis fretadas pela tropa, partia de quinze em quinze dias de Luanda e transportava todo o apoio logístico com destino aos diversos aquartelamentos disseminados pelo mato, e ia deixando pelos acampamentos que ficavam na sua rota os respectivos camiões. Chegada a São Salvador lá bem no norte invertia a marcha e agora em sentido inverso, ia recuperando de novo essas viaturas que voltavam a engrossar a coluna de volta a Luanda.
A protecção estava a cargo das nossas tropas que para o efeito intercalavam entre cada meia dúzia de viaturas, um hunimog com soldados fortemente armados. Á cabeça da coluna seguia uma berliet com apenas o condutor e outro soldado, sentados em cima de sacos de areia, era o chamado rebenta-minas.
Rodamos pela estrada alcatroada até Ambrizete situada na costa Atlântica, onde chegamos já ao fim da tarde, mas ainda a tempo de tomarmos um rico banho na sua maravilhosa praia de areias a perder de vista, banhada por uma luz doirada e cadente do final de dia. E extasiado assisti a um pôr do sol deslumbrante que se aproximava rapidamente do ocaso.
Sobranceiro á praia situava-se o Brinca-na-Areia um grande e conhecido café -restaurante que por ser dia de coluna se encontrava repleto de soldados. Dirigimo-nos para lá, a uma mesa ao fundo encontrava-se o meu colega de transmissões Valinhas, acompanhado do enfermeiro Marialva que iriam a partir daquele local fazer parte da escolta, reforçanda-a.
Ao ver-me o Valinhas chamou-me para a sua mesa e, demonstrando alegria e boa disposição confidenciou-me.
- É pá. Mike, isto das escoltas ao MVL é porreiro.
- Pois é – Disse eu, e indaguei.
- É muito melhor que fazer emboscadas junto da fronteira, não é?
- Se é! Mas o que tem de melhor são estas mariscadas aqui no Brinca -na – Areia.
Juntamente com estes dois amigos empanturramo-nos de cervejas cuca e do belo e apetitoso camarão, que aqui ainda tinha um preço mais acessível que em Luanda.
Bem comidos e melhor bebidos, despedimo-nos dos nossos amigos – Esta seria a ultima vez que os veria com vida, como adiante contarei – e dirigimo-nos para junto da nossa viatura, eu como era hábito fazer-mos nestas circunstancias, deitei-me em cima da capa camuflada com o saco e a arma por almofada e o céu estrelado por tecto.
O Farsola entregou-me o seu saco, pôs a arma a tiracolo e disse-me com a voz entaramelada pela cerveja.
- Guarda o meu saco, que eu vou ver se faço pela vida.
Ainda lhe recomendei.
-Não te metas em sarilhos. Ouvis-te?
Mas ele já se tinha afastado e não me ligou.
Pela madrugada sou acordado com um pontapé no cu, seguido do vozeirão cavernoso e inconfundivel do Farsola que me diz.
- Mike. Vê lá se acordas que os motores já estão em aquecimento e vamos partir - E com um sorriso de orelha a orelha rematou. 
- Ganhei uma pipa de massa, a jogar á lerpa. Depenei os papalvos dos maçaricos que vão para Noqui! Os gajos ainda trazem grana fresca do Puto.
- Ai. Sim? interroguei eu.
- Pois é pá! E ainda lhes fanei esta garrafa de água do Puto.
- Não me digas que te meteste outra vez na vermelhinha? Perguntei com ar reprovador.
Não me respondeu. A vermelhinha é um jogo de três cartas da mais pura batota, e consiste em escolher uma dama de um naipe vermelho, de entre as outras duas de naipe preto. O Farsola era exímio a manipular as três cartas, baralhando completamente a vítima que ele pretendia ludibriar, e a quem só deixava ganhar o primeiro jogo a fim de o entusiasmar a apostar mais forte.
Geralmente a vitima apostava o dinheiro e na falta deste os seus pertences. A garrafa de água do Puto a que o Farsola se referiu e me mostrou, era o nome que os indígenas davam á aguardente e terá sido ganha com este jogo.
Era um jogo altamente proibido que quase sempre acabava mal, dando origem a cenas de grande discussão e até de pancadaria, pelo facto das vítimas se sentirem burladas.
Por todas estas razões pouquíssimas vezes presenciei este jogo, que apenas era executado e muito raramente em locais de grande movimento e de passagem, onde ninguém se conhecia.



sexta-feira, 16 de julho de 2010

Capítulo II-Continuação da minha ida á consulta do H. M. de Luanda

Passada uma semana da primeira consulta ao Dr. Taborda, voltei a deslocar-me á Mamarrosa e fui novamente visitar o médico, voltando a afirmar-lhe que tinha bebido o leite condensado, mas que tudo o que comia vomitava e que agora as dores eram insuportáveis.
Para meu deleite e depois de me ouvir atentamente disse-me.
- Pois é Mike. Sendo assim, vais tratar das coisas para seguires no próximo MVL para Luanda, afim de efectuares algumas radiografias no Hospital Militar.
Agradeci-lhe a atenção, despedi-me e, quando me dirigia para a saída ainda o ouvi dizer
- Em Luanda tem cuidado com as cervejas e com o camarão, não são bons amigos do estômago.
Sempre me intrigou o bom do médico não ter descoberto a minha tramóia, tanto mais que as minhas queixas eram exactamente iguais ás do Farsola e praticamente coincidentes no tempo.
Atribuo tudo isto ao facto de ele ser sensível á nossa situação. Isto é, estarmos os dois já com praticamente dois anos de comissão, o que tínhamos passado anteriormente em Nambuangongo, na Força de Intervenção e agora neste cu de Judas.
Nunca tive oportunidade de esclarecer este episódio com o Dr. Taborda pois ele infelizmente faleceu vítima de um acidente de viação pouco tempo após o seu regresso á metrópole.
Durante a nossa curta estadia em Luanda estivemos instalados nos Adidos um quartel na periferia da cidade, onde ficavam os soldados que viessem tratar de assuntos, ou que simplesmente estivessem em transito.
Aqui a vida não poderia ser melhor, pela manha deslocávamo-nos ao Hospital afim de realizar-mos consultas e outros exames. De tarde após ingerirmos o intragável rancho, íamos até á praia na Ilha dar um mergulho nas suas águas tépidas e cristalinas, pois estávamos na estação quente. A noite era passada nas cervejarias da baixa da cidade – Portugália, Versalhes. Ou nos cinemas e noutros locais da vida nocturna que fervilhavam pela grande e maravilhosa cidade que era a bela capital de Angola.
Mas…. Como tudo o que é bom passa depressa, ao fim dumas breves três semanas, devido aos exames se terem revelado inconclusivos, como era de esperar …. Eis que de novo temos que apanhar o maldito MVL de regresso ao abominável mato e á fatídica guerra.
Filha da puta de guerra que já tinha ceifado dois anos á minha juventude. Estava farto de dormir debaixo do chão, feito coelho, acordar ao som de tiros, rebentamentos, suspiros e ais, mas …. Enfim por enquanto estava vivo e inteiro e isso era o que mais interessava naquele momento.
Afim de nos ser passada uma guia de marcha para a viagem, tivemos que nos fardar a rigor e irmo-nos apresentar ao sargento da secretaría dos Adidos. Eu tinha na altura o cabelo um pouco crescido, o que me ajudava a disfarçar a minha condição de soldado na noite Angolana. O homem quando me viu entrar olhou-me para o cabelo e desatou em altos berros.
- Rua! Ponha-se já na rua, e só apareça ao pé de mim com o cabelo devidamente cortado.
- Rua!- Ainda voltou a repetir o lateiro de merda! Cabrão! Filho da puta!
Estes chicos tinham o umbigo tão grande, que por vezes nos ignoravam, o que até acabava por ser vantajoso.
Mandei cortar o cabelo e apresentei-me de novo ao Chico, que desta vez simplesmente me ignorou, possivelmente já nem me reconheceu entre tantos soldados vestidos de igual e com a mesma idade.
Manuel Aldeias

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Capítulo I-
Encontro-me presentemente a passar à escrita, a minha ida à consulta do Hospital Militar de Luanda, acompanhado do meu colega Farsola e, á medida que for escrevendo vou publicando no BLOG.
Assim sendo, aqui vai a primeira parte dessa odisseia, em que apenas alterei os nomes dos intervenientes.
 O meu amigo Farsola não escondia de ninguém o seu lamentável e  tumultuoso passado de larápio nas ruas de Cascais.

De altura mediana, gorducho, cabelo preto e liso já bastante ralo e com grandes entradas, era uma figura peculiar. Mais velho que todos nós cerca de 5 anos, tinha chegado à vida militar bastante tarde devido a ter cumprido pena de prisão.
Ele e o seu bando de delinquentes dedicavam-se ao arrombamento e roubo de bens deixados no interior dos automóveis – Nunca me faltava o dinheiro – gabava-se ele muitas vezes – Amachucávamos as notas em pequenas bolas antes de as colocarmos nos bolsos das calças.
O seu gang tinha sido desmantelado e condenado. Após o cumprimento da pena a que fora sujeito pelo tribunal, ingressara compulsivamente na tropa e enviado para Angola e para a pior zona de guerra – Nambuangongo. Tinha sido ali naqueles tempos difíceis dos ataques ao aquartelamento, das emboscadas mortíferas e das duras e espinhosas operações apeadas naquela intricada região dos Dembos, no Norte de Angola, que nos conhecemos e iniciamos a nossa amizade.
Apesar do seu passado pouco recomendável era um bom camarada, amigo do seu amigo, gingão, rebelde e desenrascado, em suma um bon vivan.
Com o regresso da nossa antiga companhia á Metrópole, e como a nós por termos ido em rendição individual, ainda nos faltar algum tempo para terminarmos a comissão, fomos enviados para junto da fronteira Norte.
O Farsola fora colocado na sede da companhia “ Os Felinos” em Mamarrosa, uma antiga roça de café no norte de Angola, e eu a 7 km dali numa pequena base em cima da linha de fronteira, chamada Luvo.
Numa tarde bastante quente e a ameaçar trovoada, desloquei-me em coluna militar á Mamarrosa. Á saída das viaturas sou abordado pelo Farsola que me diz.
- Mike, quero despedir-me de ti, pois vou passar uns dias a Luanda, mais precisamente ao Hospital Militar.
- Então estás doente? Perguntei preocupado.
- Achas? Simplesmente dei a volta ao Dr. Taborda.
De seguida contou-me pormenorizadamente como conseguiu enganar o nosso médico, fazendo-lhe crer que possivelmente teria uma úlcera no estômago, instigando-me a proceder de igual modo.
Não perdi tempo e, valendo-me das suas instruções rapidamente me dirigi ao Dr. Taborda. Este encontrava-se no seu improvisado gabinete em madeira coberto por chapas zincadas, junto do qual também funcionava a enfermaria.
Ao ver-me entrar, o medico que me conhecia perfeitamente, pois éramos muito poucos, perguntou-me:
- Então Mike! Entra! O que te trás por cá?
Depois de o cumprimentar, queixei-me dos sintomas que o Farsola me havia ensinado, na esperança de também eu ser enviado a Luanda. E não é que o nosso prestimoso e amável médico me prescreve exatamente o mesmo, que tinha prescrito ao Farsola duas semanas antes? Dizendo-me:
- Da ração de combate e do arroz com salsichas, que é o que todos nós comemos, não te posso livrar – e continuou – Mas vou dar indicações para te entregarem umas latas de leite condensado.
A primeira parte do plano estava a decorrer lindamente. De posse das latas de leite condensado encaminhei-me para a coluna, e segui de novo para o inferno do Luvo e para as noites mal dormidas no chão lamacento dos abrigos.
Escusado será dizer que como não sou apreciador de  leite, tratei logo de me desfazer das latas, oferecendo-as ao guloso do Mouraria que lhes chamou um figo.
Manuel Aldeias 


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Esferografia: Pra sempre

Maravilhosos e deliciosos poemas de Janaiana Cruz
Esferografia: Pra sempre: "Traga-me teus lábios de luzTeu ar, tua fonteTua cruz, Teu horizonte Esse cansaço que é todo meuEsse toque conhecidoEstremecido pelo teuO ..."

terça-feira, 6 de julho de 2010

Recordando o Kuvelai (Sul de Angola)

Belas imagens a deste vidio, onde nos é dado recordar a região do Kuvelai. Local onde tive o previlegio de passar cerca de 5 meses, no já distante ao de 1973.
MANUEL ALDEIAS