sábado, 6 de novembro de 2010

Capítulo XXIII

 NOVA ETAPA SE AVIZINHA
O meu camarada de odisseia, o Farsola, continuava internado na pequena enfermaria do quartel, já não sofria das altas febres e intenso mau estar que caracterizam o paludismo, mas no entanto ainda se encontrava bastante débil.
Da primeira vez que fora atacado por essa doença em Nambuangongo, a crise fora tão
severa que o nosso médico se vira obrigado a mandá-lo evacuar para o Hospital Militar de Luanda, aproveitando o regresso da pequena avioneta militar DO 27 que duas vezes por semana nos visitava, transportando alguns alimentos frescos e o sempre ambicionado correio.
Eu ocupava muito do meu tempo junto dele, confortando-o e animando-o. No entanto além de doente o meu camarada estava bastante ansioso por chegar ao nosso local de destino.
Irritava-se comigo, barafustando.
- Mike! Vai ao centro da cidade para saberes se aparece alguma coluna do Luvo – e adiantava com voz rouca e débil – Já deve ter chegado a ordem para eu regressar á Metrópole.
De facto a sua comissão de dois anos terminava no final daquele mês, mas ainda era muito cedo para regressar. Geralmente todos os soldados ficavam sempre mais dois ou três meses, era o chamado mata-bicho.
No entanto eu compreendia perfeitamente a sua ansiedade. Eu pelo contrario ainda tinha pela frente vários meses de guerra e convinha-me prolongar ao máximo a minha estadia naquele local, longe da vida de toupeira nos abrigos do Luvo e, das perigosas e desgastantes emboscadas junto da linha de fronteira.
Conhecedor da minha situação diametralmente oposta à sua, revoltava-se muito comigo e ameaçava furioso de mãos em riste.
- Se tenho conhecimento da vinda de alguma coluna e tu não me avisas, rebento-te os cornos com a arma G3.
- Acalma-te pá – respondia-lhe eu – Não estás em condições de viajar 80 km por aquela picada esburacada, sentado no banco de ripas de madeira de uma viatura hunimog.
O meu amigo encontrava-se tão ansioso e desorientado, que se lhe escondesse a verdade, não sei qual seria a sua reacção.
Numa das minhas deslocações ao centro da cidade, encontrei os soldados de uma coluna pertencente a uma companhia vizinha da nossa.
Depois de conversar com o comandante da coluna, decidimos que iríamos à boleia até um local conhecido como cruzamento do Lucossa. Uma vez aí chegados seriamos recolhidos por uma outra coluna procedente do Luvo que nos transportaria até ao nosso local de destino.
Em má hora tomei esta decisão pois esta seria uma viagem longa e bastante atribulada, durante a qual seriamos de novo atacados e, mais uma vez o sangue dos nossos camaradas correria por terras Angolanas.
Desta vez aconteceu o accionamento de uma mina anti-carro escondida no piso térreo da estrada, que destruiria completamente uma viatura e nos provocaria vários feridos, como relatarei no próximo capítulo.

Manuel Aldeias

2 comentários:

franciete disse...

Acabei agora mesmo de ler mais este capitulo, mas já estou ansiosa que venha o próximo, nunca gostei de histórias de guerra pois fui madrinha de guerra no ano de 1960 e tive lá família. Mas sempre me reservei a escutar estes relatos, mas a sua escrita nos envolve de tal modo que eu devoro tudo o que leio.
Um grande bem-aja abraço amigo e até breve.

Anónimo disse...

Olha eu fico aqui lendo viajando por todas estas histórias, é algo maravilhoso. Obrigado por compartilhar e eu agradeço o privilégio de poder ler coisas que jamais pensaria existir. Parabéns pelo Blog...