sexta-feira, 25 de março de 2011

MEMÓRIAS de OUTRORA XIV

(Continuação)
Pelo meio da tarde, com o ardente sol Africano a massacrar-nos impediosamente, saímos deste cerrado labirinto verde e embrenhamo-nos num alto capinzal que nos roçava o peito. Os meus dois cantis há muito tempo que se encontravam completamente vazios, quando providencialmente encontramos umas poças de agua bastante suja e com excrementos de elefante. Os Flechas desecavam-se sofregamente com esta beberragem, enquanto eu pacientemente e como me tinha sido ensinado, enchi um dos cantis, onde inseri duas pastilhas de halazon, de seguida utilizando o meu lenço do pescoço como filtro, transferi a água para o outro cantil.

Estes comprimidos de halazon, eram-nos distribuidos juntamente com as rações de combate e consistiam num desinfestante á base de lixívia, sendo largamente utilizado pelas nossas tropas para tratamento da água.
Contudo penso que não seriam muito eficazes, já que mesmo seguindo á risca a utilização deste desinfestante, viria perto do final da comissão a contrair uma doença tropical chamada bilharziose, doença esta, provocada pela ingestão de águas contaminadas.
(Continua)

quinta-feira, 17 de março de 2011

MEMÓRIAS DE OUTRORA XIII

(Continuação)
Passados alguns minutos o bom senso acabou por prevalecer e o Inspetor virou-se para mim dizendo.

-Comunique que vamos iniciar a retirada sem termos cumprido o objetivo da missão.
Assim fiz, e de imediato retomamos a caminhada de regresso na direçao de uma picada onde posteriormente seríamos recolhidos por uma coluna militar. As coordenadas do local de recolha seriam por mim transmitidas via rádio quando chegássemos ao local combinado.
À saída da Sanzala, Palacassa esperava-me e dirigiu-se a mim com modos rudes dizendo.
-Está a ver? Você e o senhor Inspetor só embaraçam! – E perante o meu silêncio adiantou.
- Se eu tivesse vindo apenas com os meus homens, como aliás eu pretendia, iria dar caça a esses bandidos.
- Não acha que já chega de canseira? Perguntei-lhe em jeito de reprovação.
Mostrando-se muito zangado, retorquiu.
- Não! Não acho! Pior vai ser a partir de agora, o regresso. Estamos completamente referenciados pelo inimigo. Não podemos usar nenhum dos trilhos utilizados pela população. Teremos que nos deslocar sempre a abrir caminho através da floresta.
E assim receando armadilhas ou emboscadas montadas nos trilhos, avançávamos muito lentamente e com bastante esforço através da cerrada floresta virgem, os ramos e troncos entrecruzavam-se e conjuntamente com as trepadeiras formavam um emaranhado cerrado e de muito difícil penetração, apenas transponível à força de catana, uma grande faca de mato que os Flechas eram exímios a manobrar.
(Continua)

quarta-feira, 9 de março de 2011

MEMÓRIAS de OUTRORA XII


( Continuação)
Ao chegar junto do Inspetor da DGS, este comunica-me que todo o nosso esforço e empenho foram em vão. O Soba explicara que o pequeno grupo da FNLA realmente tinha ali chegado mas bastante cedo, talvez por volta do meio dia, decidiram alterar os planos, comeram, abasteceram-se de carne seca e seguiram de imediato, caminhariam durante o resto do dia e provavelmente parte da noite.
Mesmo assim o comandante Palacassa estava decidido a mover-lhes perseguição. O Inspetor tentava argumentar que o plano de operações não contemplava essa hipótese. Eu que assistia à discussão, pedia a Deus que tivesse compaixão de mim e que o Inspetor levasse por diante a sua posição.
Também não tínhamos rações de combate para prolongarmos a operação, as que possuíamos apenas davam para a viagem de regresso. Isso para os Flechas não consistia obstáculo, já que conseguiam sobreviver apenas com os alimentos obtidos da natureza. O único estorvo á concretização dos desejos do comandante Palacassa era a minha presença assim como do Inspetor e, este muito provavelmente não permitiria que os Flechas prosseguissem sós na perseguição dos elementos inimigos.
Entretanto a manhã avançava e estava na hora de eu fazer o contacto diário com a base pelo que montei as antenas no rádio racal TR 28 e, pressentindo a indecisão virei-me para o Inspetor e perguntei-lhe.
- Diga-me o que hei-de transmitir.
Não me respondeu entretido que estava argumentando e conversando com Palacassa.
(Continua)

terça-feira, 1 de março de 2011

MEMÓRIAS de OUTRORA XI

(Continuação)
Ao chegar junto do Inspetor da DGS, este comunica-me que todo o nosso esforço e empenho foram em vão. O Soba explicara que o pequeno grupo da FNLA realmente tinha ali chegado mas bastante cedo, talvez por volta do meio dia, decidiram alterar os planos, comeram, abasteceram-se de carne seca e seguiram de imediato, caminhariam durante o resto do dia e provavelmente parte da noite.Mesmo assim o comandante Palacassa estava decidido a mover-lhes perseguição. O Inspetor tentava argumentar que o plano de operações não contemplava essa hipótese. Eu que assistia à discussão, pedia a Deus que tivesse compaixão de mim e que o Inspetor levasse por diante a sua posição.
Também não tínhamos rações de combate para prolongarmos a operação, as que possuíamos apenas davam para a viagem de regresso. Isso para os Flechas não consistia obstáculo, já que conseguiam sobreviver apenas com os alimentos obtidos da natureza. O único estorvo á concretização dos desejos do comandante Palacassa era a minha presença assim como do Inspetor e, este muito provavelmente não permitiria que os Flechas prosseguissem sós na perseguição dos elementos inimigos.
Entretanto a manhã avançava e estava na hora de eu fazer o contacto diário com a base, pelo que montei as antenas no rádio racal TR 28 e, pressentindo a indecisão virei-me para o Inspetor e perguntei-lhe.
- Diga-me o que hei-de transmitir.
Não me respondeu entretido que estava argumentando e conversando com Palacassa.
(Continua)